Meus poemas obscenos

No. 0.

Meu nome é quase Nicolau
Pega no meu pé

Gosto de gente chata e legal
Bonita e feia, pobre e rica
Pega na minha mão

Sou xará do Nícolas Flamel
Aquele da pedra filosofal
Pega no meu pau.

Escrevi este poema em 2012 ou 2013, quando estava começando a escrever por hobby, numa época em que escrevi muitos poemas, a maioria muito horrível.

Eu ouço piadinhas do tipo “Nicolau, pega no meu…” desde sempre. Acho que foi a partir daí que saiu esse texto.

O final, com a palavra explícita, depois de tantos contornos para implicitá-la, é o que dá sua maior graça. O poema é bem singelo, bem humilde, mas ainda divertido (na minha opinião).

Esse poema sempre foi uma espécie de apresentação. Aliás, eu o recitei na minha primeira semana na faculdade de medicina, numa atividade em que a nós, bixos, foi proposto que nos apresentássemos com um desenho, um texto, uma acrobacia etc. A sala riu bastante. Ele é engraçadinho mesmo.

***

No. 1.

Ela me disse
Esse nosso desgosto pelas camisinhas
Ainda nos levará à ruína

Eu disse a ela
Então, amor, iremos à ruína

Passo a passo
Olho no olho
Pele com pele

Desde o primeiro rascunho deste texto, que foi escrito em 2017, gostei da ideia dele. Chegar, porém, a uma versão final boa, que realmente me satisfizesse, ainda não foi possível.

Dos poemas que estão aqui, esse é o que foi mais revisado, repensado e revisitado. “Ela me disse” ou “Ela disse a mim”? O segundo e o terceiro verso devem ser fundidos em uma linha só ou continuar separados? “Eu lhe disse” ou “Eu disse a ela”? “Então vamos à ruína” ou “Então iremos à ruína”? Ponho um “amor” lá no meio de “Então vamos à ruína”? Ou deixo sem nada? Ou ponho um “meu bem” ao invés de “amor”? “Passo a passo” ou “Passo após passo”?

Muitas questões.

E, como disse, ainda não estou satisfeito. Esse poema No. 1 é um poema em construção. Tem potencial, eu sinto isso desde que a ideia dele mostrou os primeiros sinais de vida em minha mente. Mas ainda precisa amadurecer. Parece que algo continua fora do lugar.

***

No. 2.

BONITO
RICO
INTELIGENTE
DIRETOR DA EMPRESA
BARBA
ALTO
FALA QUATRO LÍNGUAS
ROMÂNTICO
CARINHOSO
COZINHA BEM

pau pequeno

Este texto é de 2017, assim como o No. 1.

Eu não sou muito fã de poemas concretos. Nem mesmo a fase concreta de Leminski, que é um de meus poetas preferidos, agrada muito meu senso estético. Mas eu gosto de alguns elementos concretos que podem ser incluídos em poemas “normais”, enriquecendo-os. Um exemplo disso é o “concretismo minimalista” de alguns poemas de João Barão (que eu já citei no meu blog antigo, tempo perdido), em que, por exemplo, a estrutura do poema lembra a queda de um precipício, que é mais ou menos o assunto explícito dos versos.

Este poema No. 2 é minimamente concreto. Ele não se parece nem um pouco com os poemas concretos clássicos, com formas exuberantes, desenhos etc. Mas o último verso escrito em minúsculas, em comparação com todos os versos anteriores em caixa alta, é essencial para a poesia (humilde) do texto. É como se fosse um tempero sutil, posto em pequena quantidade, mas indispensável para o resultado final.

***

No. 3.

É,
Acabou.

Agora é afogar as mágoas em outras bocetinhas.

Não tão queridas,
Não tão acostumadas,
Não tão cadenciadas;
Porém,
Bocetinhas.

E de vez em quando um cu.

Esse poema aconteceu muito rápido. A ideia surgiu e, minutos depois, ele estava pronto. Isso foi em 2017, como os dois anteriores. Ele mudou muito pouco desde então.

Originalmente, no sexto verso havia “à vontade”, no lugar de “cadenciadas”. A mudança, bem recente, foi no intento de manter o paralelismo com os dois versos anteriores (uma única palavra e a repetição do som /q/). Porém, parece que essa versão fica menos musical, acho que porque tem uma sílaba poética a mais do que a original (“à vontade”). Talvez seja melhor manter o original…

Outra opção seria substituir “queridas” por amadas” no quarto verso, o que tiraria a aliteração do /q/, mas adicionaria a assonância e a rima do /adas/ à estrofe. Mas o quarto verso ficaria com duas sílabas poéticas a menos do que os dois versos seguintes, e isso também não parece bom.

***

Nada há mais fascinante do que seu peitinho

Seu cabelo é bonito, mas não como seu peitinho

Sua boca é gostosa, mas não como seu peitinho

Seu pescoço é macio, mas não como seu peitinho

Como seu bumbum, mas não como seu peitinho

Amo todas as mulheres que queimaram sutiãs e os impediram de tampar o seu peitinho

Amo aquela onda de mar que desarrumou seu biquíni e me permitiu um relance de seu peitinho

Amo aquela blusa que não combina com sutiã e transmite os movimentos de seu peitinho

Amo seu hábito de correr nas manhãs de sábado e fazer suar o seu peitinho

Tenho inveja dos amigos que estão do lado esquerdo do seu peitinho

Tenho inveja da camisola que dorme encostada em seu peitinho

Tenho inveja das ondas eletromagnéticas que passam pelo seu peitinho

Tenho inveja do tecido epitelial glandular que compõe o seu peitinho

Quando tenho dor de barriga, lembro-me de seu peitinho

Quando ando de bicicleta, lembro-me de seu peitinho

Quando estudo ciclos hormonais, lembro-me de seu peitinho

Quando não faço nada, imagino-me vivamente em íntima relação com seu peitinho

Gosto de ouvir seu coração, para ficar perto de seu peitinho

Gosto de alisar sua barriga, e disfarçadamente sentir o seu peitinho

Gosto de chupar o seu peitinho, porque é o seu peitinho

Gosto de poesia, mas prefiro seu peitinho

A chupeta que calaria todos os choros teria a forma de seu peitinho

Chega de Saudade seria melhor se a nadar no mar estivesse seu peitinho

O animal de estimação mais leal do mundo seria seu peitinho dourado

O prato mais delicioso de todos os tempos seria seu peitinho de frango

Frito

Se eu fosse um pintor, pintaria seu peitinho

Se eu fosse um cantor, cantaria seu peitinho

Se eu fosse um fotógrafo, fotografaria seu peitinho

Se eu fosse arquiteto, arquitetaria seu peitinho

Se eu tivesse que escolher entre você e seu peitinho, escolheria você

Que tem dois de seus peitinhos

Este poema, o primeiro poema com título desta série, é baseado no poema “Seu nome”, de Fabrício Corsaletti. Um poema muito bom, mais intenso e bem feito do que este.

Ele surgiu como uma brincadeira, uma paráfrase do poema de Corsaletti, e virou um poema próprio que, na minha opinião, tem seu valor.

***

Esta foi uma seleção de alguns poemas obscenos que escrevi até aqui. O nome originalmente era “poemas eróticos”, mas eu percebi que eles não são eróticos, com exceção talvez do poema No. 1 (meu preferido). Eles não trazem o suspense e a sugestão que caracteriza (eu acho) o erotismo. Eles são apenas poemas debochadamente explícitos.

Em homenagem aos poetas obscenos, termino com uma estrofe de cantiga de escárnio e maldizer do século XIII, a precursora dos poemas obscenos em português. De Joán Soares Coelho:

Deu-mi o Demo esta pissuça cativa,
que ja non pode sol cospir a saíva
e, de pran, semelha máis morta ca viva,
e, se lh’ardess’a casa, non s’ergería.
Par Deus, Luzía Sánchez, Dona Luzía,
se eu foder-vos podesse, foder-vos-ía.

18.11.15. Alguns poemas obscenos
O rei Alfonso X, o Sábio, rei de Castela e Leão no século XIII, conhecido por suas contribuições à cultura medieval. Joán Soares Coelho foi visitante na corte do rei, onde conviveu com outros vários trovadores, sendo o próprio Alfonso X um poeta de cantigas safadinhas, ou seja, poemas obscenos. Imagem em domínio público.

3 comentários em “Meus poemas obscenos

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