Qual é a origem dos nomes dos dias da semana?

Há muito tempo eu tenho curiosidade de saber por que os nomes da semana são tão parecidos em tantas línguas românicas e germânicas, mas muito diferentes (e sem graça) no português moderno.

Quase todas as línguas românicas têm nomes bem parecidos para os dias da semana. Lundi, do francês, vira lunedì em italiano, lunes em espanhol e luni em siciliano. Todos derivam do latim dies Lunae, “dia da lua”.

Da mesma forma, as línguas germânicas em geral também batizam a segunda-feira como o “dia da lua”. Em inglês, é Monday; em alemão, Montag; em dinamarquês, Mondag; em holandês, manndag.

Mas o português é diferentão. Aqui, dizemos segunda-feira.

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Nos primeiros séculos da era cristã, o Império Romano passou paulatinamente a adotar a “septimana”, uma semana de sete dias que substituiria os “ciclos nundinos” que existiam antes (de oito dias). Os nomes dos dias da septimana, em latim, foram dados segundo o sol, a lua e os cinco planetas conhecidos na Antiguidade (exceto a Terra), que eram nomes de deuses romanos: dies Solis (sol), dies Lunae (lua), dies Martis (Marte), dies Mercurii (Mercúrio), dies Iovis (Júpiter), dies Veneris (Vênus) e dies Saturni (Saturno).

O primeiro dia da semana, dies Solis, era o “dia do sol”; mas ele se tornou dies Dominicus, o “dia do Senhor”. Saturno, deus romano do tempo e pai de Júpiter, deu seu nome ao último dia da semana, dies Saturni, porém, este foi renomeado segundo o dia de descanso das religiões abraâmicas, o Sabbath.

Dos nomes latinos, baseados nos deuses romanos, surgiram os nomes dos dias da semana nas línguas latinas modernas. Dies Mercurii, por exemplo, originou mercredi, miércoles, mercoledì e dimercres, em francês, espanhol, italiano e catalão, respectivamente.

Em algum momento, ainda nos primeiros séculos da nova era, antes da ascensão do cristianismo, os povos germânicos do norte e leste europeu adotaram a semana de sete dias dos romanos, traduzindo os nomes dos dias para seu próprio idioma. Os dias do sol e da lua continuaram. Os deuses Marte, Mercúrio, Júpiter e Vênus foram substituídos por divindades da tradição germânica: Tiw, relacionado ao combate, substituiu Marte; Woden, que seria o guia das almas depois da morte, substituiu Mercúrio; Thunor, deus dos trovões, ficou no lugar de Júpiter; e Frige, uma deusa anglo-saxônica, substituiu Vênus. Aparentemente, os povos germânicos não encontraram um deus suficientemente parecido com Saturno para batizar o sábado e preferiram deixar o deus romano mesmo.

Assim, em inglês antigo os dias se tornaram Sunnandæg (“dia do sol”), Monandæg (“dia da lua”), Tiwesdæg (em homenagem ao deus Tiw), Wodnesdæg (em homenagem ao deus Woden, também conhecido como Odin), Þunresdæg (em homenagem a Thunor, ou Thor), Frigedæg (segundo a divindade Frige) e Sæternesdæg (que continuou com o nome do deus romano, Saturno).

Olaus Magnus Historia om de nordiska folken

Representação dos deuses nórdicos Frige, Thunor e Woden. Trabalho de Olaus Magnus.

Essa é a origem da maioria dos nomes dos dias da semana nas línguas germânicas modernas. O dies Mercurii, que em anglo-saxão virou Wodnesdæg, tornou-se Wednesday, Onsdag, onsdag e woensdag, em inglês, dinamarquês, sueco e holandês, respectivamente.

Há algumas exceções. Quase todos os dias da semana em alemão são semelhantes aos nomes do anglo-saxão, mas não a quarta-feira: Mittwoch, i.e. “meio da semana”. Igualmente, em luxemburguês diz-se Mëttwoch, e em iídiche diz-se Mitvokh. Também o sábado do alemão não deriva de Saturno, mas do Sabbath: Samstag.

Nas línguas da Escandinávia, o sábado tampouco pega o nome de Saturno. Em dinamarquês, temos Lørdag; em sueco, lördag; em islandês, laugardagur. A origem seria laugardagr, “dia da limpeza” em nórdico antigo.

19.05.xx. De onde surgiu o feira de segunda-feira 1
Os dias da semana em várias línguas. O latim foi a base para a maioria das línguas românicas, que estão na camada do meio da figura. O anglo-saxão, uma antiga língua germânica, é similar aos idiomas germânicos na parte mais baixa da tabela, mas mais antigo. O esperanto, uma língua programada, tirou os dias da semana da tradição latina. O sérvio, assim como o português, nomeou os dias da semana com uma sequência numérica; mas, diferentemente do português, o primeiro dia seria o dies Lunae.

Então, afinal, por que o português nomeou os dias da semana tão desconforme a maioria das línguas latinas?

Foi porque no século VI, parte do clero católico de uma região que hoje fica em Portugal entendeu que era um insulto ao deus abraâmico chamar os dias da Semana Santa segundo os deuses pagãos. Assim, decidiram manter o domingo (“dia do Senhor”) e o sábado (Sabbath) e mudar o resto. Os outros dias, que durante a Semana Santa serviriam para culto e oração (ou seja, descanso), viraram segunda-, terça-, quarta-, quinta- e sexta-feira, derivados do latim feria, “dia de descanso”.

Com o tempo, essa nomenclatura se espalhou para todas as outras semanas do ano. O galego também usa o sistema da “feria” para nomear os dias da semana, simplesmente porque naquela época galego e português ainda eram a mesma língua.

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