A descrição que mais gosto de João Gilberto acho que vi em um documentário sobre Vinicius de Moraes, mas posso estar enganado. Era algo sobre o encontro de Tom Jobim com “o gênio criativo de João Gilberto”.
O gênio criativo de João Gilberto.
O último dos pais fundadores da bossa nova passou neste sábado do dia seis de julho de 2019. Vinicius nos deixou em 1980, e sua morte completou ontem 39 anos, apenas três dias após a passagem de João. Elizeth partiu em 1990 e Tom se foi em 1994.
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Ano passado, durante uma discussão de casos na enfermaria de psiquiatria, um dos nossos professores sugeriu que João Gilberto fosse esquizofrênico.
Foi uma surpresa, pois nunca havia ouvido falar isso e, vinda de um psiquiatra, era uma informação chocante. A surpresa foi maior ao ouvir a resposta de alguns colegas: “Quem é João Gilberto?”.
É muito moralismo, ou pelo menos pedantismo, e muita canalhice achar que todo mundo deve saber o nome do artista que você gosta de ouvir. O problema é que não falávamos de Marcelo Mancini ou Formigão, mas de João Gilberto.
Claro, sem ofensas a Marcelo e Formigão.
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Mas eu não sou crítico musical. Melhor ouvir quem sabe do assunto.
Gal Costa o descreveu como “o maior gênio da música brasileira” e Caetano Veloso disse que era “o maior artista brasileiro de todos”. Ed Motta o chamou de “mestre supremo” e Daniela Mercury o declarou “um gênio que revolucionou para sempre a música popular brasileira”.
O capitão Jair Bolsonaro, ao ouvir da morte do músico, limitou-se a dizer que era “uma pessoa conhecida”.
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Algumas coisas são certas, algumas são erradas e outras são nem certas nem erradas.
Falar a verdade é certo, mentir é errado, comer manga com leite é nem certo nem errado.
Não saber quem é João Gilberto parece ser uma dessas coisas que são nem certas nem erradas, mas não se engane — é errado.
Erradíssimo.
Rudemente errado.
É errado se você é estudante universitário. É um crime se você é chefe de Estado do berço onde ele nasceu.
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Quanto à esquizofrenia, tenho que é apenas um boato que é reproduzido. Tratava-se apenas de um gênio criativo.

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
– Trecho de “Poema de Natal”, Vinicius de Moraes
👏🏾
Não se engane, é errado. Muito errado.
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