Igrejas neopentecostais, agachamentos e mamutes

Tem um meme na internet que zoa o motto feminista “somos netas das bruxas que vocês não conseguiram queimar”. O meme diz algo na linha de “larga disso, sua avó é dona de casa e evangélica”. Ele é particularmente engraçado por que o Brasil está vivendo um crescimento de dar nos nervos de um neopentecostalismo reacionário e caricato que contrasta de maneira muito forte com o feminismo em geral. Assim, há uma boa probabilidade de a avó de quem diz isso realmente ser evangélica. O que não tem nada a ver com o feminismo e o simbolismo da frase, claro. Só que é engraçado.

Isso me lembra uma época, lá em 2014, em que eu estava fazendo treinos de força na academia. Eu tinha que agachar três vezes na semana, com cargas muito pesadas (para mim). E agachar é um negócio horrível, e com cargas pesadas é ainda mais.

Muitas vezes, antes de ir para a academia, eu me desanimava. Ah, eu não preciso disso, eu não preciso ficar levantando essas coisas pesadas, eu não nasci para isso.

Porém, eu nasci. Todos nascemos para isso.

Todos os seres humanos atuais são descendentes de destemidos caçadores de mamutes. Nossos avós de 17 mil anos atrás eram fortes e corajosos e motivados, e saíam de manhã no frio e na chuva, junto com companheiros que amavam e honravam, para caçar animais mais de 250 vezes mais pesados do que uma pessoa. Com lanças de pedra.

E aí, eu ia agachar. Afinal, o que é subir e descer com uma barrinha nas costas perto de matar um bicho de 20 toneladas? Se eles conseguem, eu consigo. Afinal, eu sou eles.

E o melhor disso é que meus dois avós eram lavradores, que criaram os filhos trabalhando arduamente a terra. Um morreu violentamente e o outro de doença do campo, dessas que fibrosam o coração. Coração duro, de pedra. Honrados.

E não eram evangélicos. Não que houvesse algum problema, caso fossem. De forma alguma. Mas não eram. Se vivessem hoje, talvez fossem. Acho que um seria.

Mas não eram. Somos os netos dos caçadores de mamutes que ninguém conseguiu queimar.

“Skeleton of the Young Mammouth in the Museum at Philadelphia.” Illustration in Édouard de Montulé, A Voyage to North America, and the West Indies, in 1817 (2919839707).jpg

4 comentários em “Igrejas neopentecostais, agachamentos e mamutes

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  1. Perdoe-me a insolência, não quero ser deseducado, mas, meu amigo, por que você colocou “motto” e não “lema”? Poxa, cara, ou você escreve em inglês, ou você escreve em português. Coisa é essa?

    Não sei dizer cientificamente se sua imagem procede. Não sei se os humanos caçavam tantos mamutes assim; desconfio de que eram mais coletores e caçadores de animais pequenos. Contudo, mesmo assim, colher como eles e caçar animais pequenos continua a ser trabalho físico muito mais árduo do que a maioria de nós faz modernamente.

    Um avô morreu violentamente; gostaria de saber como foi. Acidente de carro? Tiro? Dado por si mesmo?

    O outro, faço o diagnóstico de Chagas. Não sou médico, mas que fibrosa o coração só ouvi falar dessa maldita.

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  2. A questão é: Dificuldades e costumes diferentes. Mais? Evolução mental e evolução genética!
    De qualquer forma, gostei quando escrevestes que que és seus antepassados, pois, de certa forma, é sim; inobstante, releia meus dígitos! P F 😉

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    1. Valeu, Gabriela!

      Nós vencemos os mamutes pelo cansaço. Somos ótimos corredores de longa distância. Fica a dica.

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