recentemente, uma leitora me chamou para perguntar sobre um texto. era aquele que falava que não importa se você gosta de medicina ou não, que se preocupar se você está no curso certo é narcisismo, que a vida não serve para ser feliz, mas simplesmente para ser vivida etc etc.
e aí ela me perguntou algo nesta linha: se eu não devo escolher com base no que eu creio que me fará feliz, devo escolher com base em quê?
e eu disse: não sei.
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a primeira coisa a lembrar é que a vida é complexa demais para ser resumida em poucas linhas. quando eu digo que você é covarde de ficar remoendo sua escolha de curso universitário enquanto na periferia da sua cidade tem garotos cinco anos mais novos que você sujos de graxa trabalhando desde antes de você acordar e sem perspectiva nenhuma de fazer nenhuma faculdade na vida, eu não quero dizer exatamente isso, mesmo que seja verdade. eu só quero lhe convidar a uma reflexão:
meu curso universitário é realmente tão importante?
(lembre-se que quem propõe essa reflexão é uma pessoa que trocou de curso universitário depois de dois anos estudando normas.)
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o que eu sei é que há milhões de corpos a enterrar, muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo, uma criança chorando, mulheres ficando loucas e legiões delas carpindo a saudade de seus homens, há um vácuo nos olhos dos párias e sua magreza é extrema, há um herói num cárcere e um lavrador que foi agredido, uma poça de sangue de criança em uma praça e eu levo nas costas a desgraça dos homens.
não pergunte qual curso vai fazer você feliz. pergunte qual curso lhe permitirá reerguer as cidades e preencher o vácuo nos olhos dos párias.
provavelmente não será a medicina.

O que você acha?