Discorrendo riscos #2

jardineiros do mundo

Do quintal de mim, eis o jardim:
flores das mais diversas folhas,
galhos e brotos, frutas maduras.
A paisagem, uma amadurecência que só as plantas entendem.
Eu via o todo, e tudo me olhava.
Era um sobrevoo do mundo e do nada,
já que havia desertos também.
A água corria profunda, em espiral infinita,
até a foz que inunda de risos meu ser.
Um dia, uma flor que brilha
me olhou assim e eu olhei a ela,
era como se a primavera
tivesse sorrido pra mim.
Nunca quis tanto ser uma abelha.
Senti ali a cor vermelha
criando a centelha
de tal percussão.
As hipnoses que nós mesmos criamos:
Esqueci as florestas, esqueci os rios,
os pássaros passavam e eu nem dava ouvidos.
O pensamento era o momento da flor.
Mas, neste espaço, todo tempo é curto, nem se percebe o girar de tudo.
Devia estar me fazendo de bobo.
A flor, que brilhava, se apagou.

Talvez mais perigoso que colher flores, é deixar-se ser colhido.
Fazer isso é permitir que se encolha,
é como a prisão de uma bolha,
explode num estalo e acaba contigo.

Desde então, cultivo melhor as escolhas.
Vejo flores e pessoas, mas quero viver florestas.
Meu professor tinha um quintal maior que o mundo.
Lá vou eu, agora, tentar fazer do mundo
o meu maior quintal.

jardineiro.jpg

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