Vontade de se provar

Esses dias alguém me disse em tom pejorativo que eu tinha muita vontade de sempre me provar.

Eu não entendi a razão do tom pejorativo. Eu tenho vontade de me provar mesmo. Sempre tive. Tomara que continue tendo.

Eu tenho horror, por exemplo, à possibilidade de ser ruim em inglês. Eu me formei na Cultura Inglesa e fiz o FCE em 2011, depois de uns oito anos estudando o idioma. Oito anos estudando inglês. E eu me formei com a sensação de que eu não sabia nada.

Comecei a estudar sozinho, forçando-me a ler e escrever em inglês, ouvindo e aprendendo a cantar raps americanos. Usei muito o Quora em inglês nessa época, e ouvi muito Snoop, Eazy-E, Tupac, Biggie, NWA, Wiz e outros. Viajei para fora e testei minha proficiência com estrangeiros. Dei aulas em uma escola particular.

Depois disso tudo, em 2019, depois de dezesseis anos estudando inglês, eu ainda achava que não sabia bem o suficiente. Decidi fazer o CPE, o último teste de Cambridge, nível C2 no CEFR, o mais avançado que um aprendiz não-nativo pode chegar no inglês. Com o C2 na mão eu poderia relaxar: ele seria a prova de que eu sei, sim, inglês. Eu teria me provado, para mim mesmo e para quem quisesse saber.

Fiz a prova e passei, mas ainda estou insatisfeito com meu domínio do idioma. Ainda preciso me provar. Mais.

***

É muito fácil se achar bom em algo. É muito fácil colocar “inglês intermediário” no currículo, depois de fazer um curso de um ano no idioma, se você não precisa se provar.

É fácil se dizer um bom escritor. Eu sou um bom escritor. Eu acho do fundo do meu coração que minha habilidade de usar a língua está acima do percentil noventa-e-nove-vírgula-alguma-coisa.

Mas isso não significa nada.

Enquanto eu não tiver milhares de pessoas lendo e comentando meus textos todos os dias, eu sou só mais um moleque pagando de blogueirinho.

Eu preciso me provar.

Eu quero muito ter milhões de leitores, simplesmente porque é uma forma bem objetiva de ser dito: “você é bom”.

Saca? 

Você pode criticar o Paulo Coelho, igual um monte de gente gosta de fazer, dizer que ele é supervalorizado e sei lá o quê. Mas você não escreve como ele e nunca vai escrever. Ele não precisa rebater nenhuma crítica, ele não precisa argumentar que é bom. Ele já se provou.

As milhões de cópias vendidas falam por ele.

***

Não importa o que eu acho. Eu sei que sou bom em inglês e que escrevo bem, mas eu não vou esperar que você acredite em mim.

Eu preciso me provar.

O ônus da prova é meu. Se eu quero ser reconhecido por ser bom em algo, eu preciso me provar.

Eu quero que você saiba que eu sei falar inglês. Eu quero que você saiba que eu escrevo bem. Eu não quero que você simplesmente acredite em mim; eu quero que você saiba.

Eu quero que você veja com seus próprios olhos.

Tem muito poucas coisas que eu faço bem. Muito poucas coisas que eu poderia ser pago para fazer. Mas essas poucas coisas que eu digo que faço bem, é porque eu posso me provar nelas. 

A qualquer hora. Sem deixar a barra cair.

***

Get a grip, motherfucker.

get a grip.jpg

3 comentários em “Vontade de se provar

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