Ao meu primeiro amor

Meu primeiro amor, 

Te chamo de amor porque te amei. Talvez tivesse dúvida disso, mas bem menos dúvidas do que tinha sobre todo o resto. O futuro é incerto, e não pude lidar com a certeza do presente. Uma coisa eu sabia: “eu gosto muito dela, de um jeito que nunca gostei de ninguém”, falava com frequência. Mas, agora, percebo que aprendi a amar, a estar junto, a dividir minha vida. Nunca tinha passado por essa experiência e, de fato, depois disso, tudo fica muito mais vazio. 

Eu deveria agradecer pessoalmente por isso, mas não sei se tenho coragem de mostrar este texto a você, muito menos se, tendo coragem, seria o certo a se fazer. No entanto, expresso minha gratidão vazia nessas linhas, gratidão que eu espero que você imagine que eu tenha. Obrigado por querer estar comigo, por me amar, mesmo quando eu não conseguia amar a mim mesmo, quando tudo que eu queria era fugir de mim. 

Obrigado pela compreensão, pela paciência, pela alegria, pelos sorrisos, os seus e os meus, que também eram seus. Muito obrigado, principalmente, por ter sido minha companheira. 

Hoje eu senti saudades de você, de nós. Não que eu não a sinta todos os dias, mas hoje foi diferente. Diferente o suficiente pra eu escrever este texto bobo, com o simples objetivo de não falar com você. Senti saudades da naturalidade que a gente tinha um com o outro, acho que eu nunca me sentia tão confortável como quando nós nos atrasávamos pra qualquer evento programado pelo simples fato de estarmos deitados juntos. 

Num desses livros que eu tenho lido, um dos autores fala que quando se perde algum amigo, se perde também a parte dos outros amigos e de si mesmo que só aquele amigo conseguia despertar, e eu, sem você, perdi uma parte de mim da qual eu não tinha ideia do tamanho. As festas sem você me chamando pra comer não são a mesma coisa, meu sofá sem o seu cheiro não passa de um móvel velho, meus filmes, sem você dormindo ao meu lado, não têm enredo nem clímax. 

Eu tenho tentado relembrar dos motivos que me levaram ao término, e eles parecem tão pequenos dentro de tudo que a gente tinha, parece só que eu perdi a oportunidade da minha vida. Sinto que vou demorar muito para, finalmente, superar nosso namoro, e a verdade é que eu não sei se eu quero superá-lo. 

Eu disse pra minha irmã hoje que eu acho que, no fim das contas, o que a gente percebe que gosta é o que a gente permite que faça mal pra nós. A vida é cheia de sofrimento, e o sofrimento com o qual a gente mais se identifica, a gente chama de gosto, cria afeto. Estou com o joelho doendo muito, e vou pro treino mesmo assim. Não consigo ficar uma semana sem treinar. Estou com o coração partido, um desespero em forma de dor física, uma angústia horrível, e ainda assim, eu te amo. 

Talvez amanhã não te ame mais, mas hoje, te amei, mais do que ontem. 

Saudosamente, 

Um homem que te amou 

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***

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9 comentários em “Ao meu primeiro amor

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    1. O texto não é meu, mas eu escrevi sobre isso há poucos dias aqui: https://nicolasteixeiracabral.com/2020/07/10/elis/.

      Segue trecho:

      Tem gente que acha que “amor não dói” — que o que dói é ciúme, raiva, coisas mal resolvidas etc. Eu não sei. Não estou dizendo que está errado, mas há outra forma de interpretar isso. Essa tentativa de purificar o amor e separá-lo de todo o resto que também faz parte da psicologia humana é platônica demais. Seres humanos amam, mas não deixam de expressar seu lado ruim enquanto fazem isso.

      Nosso amor é contaminado por todas as outras paixões que nos abatem.

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    2. Concordo que é impossível não sentir todos os outros sentimentos enquanto amamos, mas discordo que apenas percebemos que amamos alguém quando isso traz sofrimento.

      Essa crença que prende muita gente em relacionamentos abusivos, relações tóxicas. Ao mesmo tempo que o amor não deve ser romantizado, o sofrimento na relação afetiva não deve ser normalizado. É possível o “normal” ser a paz. 🙂

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    3. Concordo com o segundo parágrafo.

      Mas acho que a ideia do autor não era essa.

      Acho que ele quis dizer que uma das formas de definir o que amamos é “aquilo que permitimos que nos machuque”.

      Eu penso muito na escolha da profissão: tem gente que diz que você deve escolher a profissão com base no que você está disposto a aturar, não com base no que você gosta.

      Ou seja, você deve escolher medicina por estar disposto a lidar com a pressão, a morte de pacientes, a longa carga horária… e não pela visão romantizada do jaleco branco, do salário alto etc.

      Da mesma forma, amamos uma pessoa quando estamos dispostos a aceitar seus defeitos, que só se expõem realmente no convívio particular. É fácil gostar de alguém quando você não vive o tempo inteiro com ela e seus defeitos. É fácil gostar do lado bonito das pessoas.

      Amor é aceitar o lado feio, o lado que machuca.

      Acho que essa é a ideia.

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    4. Definiu melhor que eu. Não condiciono a presença do amor ao sofrimento, mas a vida é sofrimento, os que a gente atura com mais prazer são os que a gente tem mais apego. Mas, mais uma vez, a ideia é menos filosófica do que poética, era uma carta com um destinatário, subjetiva e sentimental na maioria dos aspectos.

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    5. Ah não, texto escrito em uma época diferente. Texto mais aqui pelo lirismo do que pela filosofia hahahaha

      Curtido por 3 pessoas

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