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Melhor verso
Que pena, que pena, era minha lembrança/ Que eu trouxe de herança do seu avô/ Mas deixa pra lá, eu vou me esquecer/ A herança é você e você já voltou
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Meus dois centavos
Eu gosto bastante da versão de Zé Henrique e Gabriel, mas essa que eu coloquei me lembra mais minha família e minha infância.
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Mala Amarela conta uma estória muito bonita, cheia de significados.
Primeiro, o menino atende a um chamado à aventura. Para viver sua aventura, evidentemente ele deve deixar a familiaridade e o conforto de sua casa e seus pais. No caminho, ele conhece um homem velho que lhe adverte, como se fosse uma profecia, as dificuldades que há quando você sai sozinho em uma aventura.
A jornada do herói é marcada pelo apego a essa mala amarela, que era de seu pai e, antes disso, de seu avô. Eu não sei exatamente qual é o significado disso, mas essa ideia de talismã que atravessa gerações não é nem um pouco nova.
No filme Pulp Fiction, por exemplo, o pugilista Butch recebe um relógio que era de seu pai e que havia sido de seu avô. Para lhe entregar o relógio, um amigo de seu pai o havia guardado durante semanas no próprio ânus, depois que o pai de Butch morrera na guerra. Depois que o lutador rompe seu acordo com Marsellus, ele arrisca a própria vida voltando para casa, apenas para recuperar o tal relógio, que havia sido esquecido durante os preparativos para a fuga.
Ou seja, o relógio era importante, não pelo seu valor nominal, mas pelo seu valor representativo. E quando eu digo importante, eu quero bem, bem, bem importante. Poucas pessoas fariam o que o amigo do pai de Butch fez apenas para poder lhe devolver aquele relógio.
Pois bem, o herói retorna de sua aventura, mas sem seu talismã. Seu pai questiona o paradeiro da mala e seu filho responde: vendi, para não passar fome.
O homem velho estava certo: a aventura foi difícil. Tão difícil que ele teve que se desfazer do objeto mais significativo que trazia consigo para conseguir sobreviver a ela.
O pai do herói fica desgostoso com isso. Afinal, aquela era a herança do seu próprio pai.
Mas é aí que ele tem a revelação. É aí que ele entende realmente. E é aí que vemos que a jornada do herói tem um poder transformador que vai muito além do herói:
Que pena, que pena, era minha lembrança
Que eu trouxe de herança do seu avô
Mas deixa pra lá, eu vou me esquecer
A herança é você e você já voltou

O que você acha?