1. A anorexia nervosa tem dois aspectos psicológicos principais: 1. o receio irrazoável e exagerado de ganhar peso, e 2. uma imagem deturpada de si mesmo. Fisicamente, o aspecto marcante é o baixo peso. Comportamentalmente, o que chama a atenção é a adoção de medidas extremas para manter um peso corporal extremamente baixo.
2. O termo anorexia pode ser enganoso. Em semiologia médica, anorexia seria a falta de apetite. Na condição clínica denominada anorexia nervosa, a diminuição do apetite não é um sintoma marcante ou necessário. Na verdade, o paciente evita comer pelo receio de ganhar peso, e não por falta de apetite.
3. Ao contrário do que se pode pensar, a anorexia nervosa não é exatamente uma doença nova. Há vários relatos de homens e mulheres que jejuaram por diversos dias, com prejuízos para a própria saúde, desde a antiguidade — ainda que, pelo que entendi, na maioria dos casos esses jejuns não tivessem o objetivo final de perder peso e não fossem ligados à obsessão por um corpo magro.
4. Em testes de tomada de decisão, pacientes com anorexia nervosa atual ou passada tendem (mais do que controles) a continuar apostando em estratégias que já se mostraram maléficas. Isso sugere que alguma forma de inflexibilidade cognitiva (dificuldade de mudar comportamento mesmo após feedback negativo) possa estar ligada à doença.
5. Pacientes com anorexia nervosa podem se apresentar com sintomas depressivos. Esses sintomas podem melhorar com a terapia nutricional específica, sem necessidade de medicamentos antidepressivos. Na verdade, há evidências de que antidepressivos não ajudam tanto nessa condição.
6. Cerca de dois terços dos pacientes com anorexia nervosa apresentam outro transtorno de ansiedade ao longo da vida.
7. Aproximadamente metade dos pacientes com anorexia nervosa se recuperam bem, enquanto 20% permanecem doentes cronicamente. Há estudos que relatam números mais otimistas.
8. Mulheres em idade fértil com anorexia nervosa podem apresentar amenorreia (ausência de menstruação) de origem central (disfunção hipotalâmica). Esse sintoma é tão importante que já foi até critério diagnóstico da anorexia nervosa.
9. Perda de peso pode ser um sinal marcante do transtorno depressivo unipolar. Ironicamente, no caso da depressão geralmente a anorexia (falta de apetite) está ligada à perda de peso, o que não é o caso quando se fala em anorexia nervosa.
10. Pesquisas recentes apontam que pacientes com anorexia nervosa na adolescência apresentam altura abaixo do esperado na idade adulta.
11. O isolamento social devido à pandemia de COVID-19 parece ter levado algumas pessoas a comer impulsivamente e ganhar peso de forma mórbida. Por outro lado, pacientes predispostos também parecem ter mais chances de desenvolver anorexia nervosa durante a pandemia. O aumento dos níveis de ansiedade está ligado aos dois extremos.
12. Adolescentes que usam mais redes sociais têm risco maior de desenvolver anorexia nervosa e outros transtornos alimentares.
13. Um dos tratamentos já testados (recentemente) para anorexia nervosa foi a testosterona em baixa dose. Sua eficácia, porém, não foi comprovada.
14. Pesquisa recente acusa que o consumo de pornografia pelo parceiro romântico pode piorar a sintomatologia da anorexia nervosa em pacientes do sexo feminino.

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