Meu diário de médico #3

Faz muito tempo que eu estava pensando em fazer algo assim. A ideia é contar um pouco sobre os pacientes que atendo no dia-a-dia, seu caso médico e seu caso não-médico. 

Espero que isto contribua para minha formação, porque é sempre bom refletir sobre a prática. Espero também que seja uma leitura quase-literária e quase-técnica para os colegas médicos e estudantes que me acompanham (que são a maioria dos que me acompanham). Para os guerreiros não-médicos que me acompanham, espero refinar minha prosa de modo que a torne proveitosa também para vocês.

Todo feedback é bem vindo.

Meu diário de médico #1

Meu diário de médico #2

***

Uberlândia, 11 de dezembro de 2020.

Esse paciente também é antigo, do começo de 2019.

Eu estava rodando na enfermaria de infectologia do HCU. Essa enfermaria é comandada por uma equipe de infectologistas de ponta, incluindo um dos quatro pesquisadores da UFU recentemente incluídos em uma lista de pesquisadores mais influentes do mundo. É um dos serviços mais interessantes do hospital.

Esse paciente era um homem jovem, com cerca de 30 anos, com quadro de tosse crônica, febre com calafrios e perda de peso.

Tosse de longa duração, febre e emagrecimento é um quadro pintado de tuberculose pulmonar, principalmente em um paciente jovem e residente no Brasil. Fosse velho, pensaríamos também em um câncer. Fosse de um país desenvolvido, a hipótese de tuberculose seria menos provável. Mas nesse caso, a Mycobacterium tuberculosis era a primeira, a segunda e a terceira suspeita etiológica.

É claro que havia diagnósticos diferenciais. A tosse crônica poderia ser explicada simplesmente pelo fato de o paciente ser tabagista, e a febre poderia ser devida a uma infecção em outro local. Mesmo considerando uma infecção no pulmão, a etiologia poderia ser um fungo, ou outra micobactéria, ou um abscesso bacteriano. Mas a primeira hipótese era tuberculose.

O principal exame diagnóstico a ser feito diante dessa suspeita é a baciloscopia do escarro. Pede-se que o paciente escarre e cuspa em um pote, logo de manhã, e o material é visto pelo microscópio depois de ser corado pelo método de Ziehl-Neelsen. A sensibilidade do método chega a 80%, ou seja, pelo menos um paciente a cada cinco com tuberculose pulmonar terá o exame de escarro negativo.

Outro teste possível é o teste rápido molecular para tuberculose, exame que detecta DNA do bacilo de Koch no escarro ou lavado broncoalveolar  por meio da reação em cadeia da polimerase. A sensibilidade desse método chega a 95%, ou seja, apenas um paciente em 20 com tuberculose pulmonar teria o exame falso-negativo.

Outra possibilidade é a cultura do material. Na cultura, o escarro do paciente é colocado em um “meio de cultura” que permite que os bacilos cresçam e sejam identificados. Esse método pode identificar o bacilo de Koch em casos de baciloscopia negativa.

Além desses exames bacteriológicos, um raio-x de tórax é mandatório diante da suspeita de tuberculose, apesar de menos específico.

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