Como a China venceu a COVID-19

Wuhan, a cidade onde surgiram os primeiros casos de COVID-19, voltou ao normal. Depois de meses sem registrar nenhum novo caso da doença, as ruas, lojas e bares de Wuhan estão funcionando tal qual estavam antes de tudo isto começar.

Isso é incrível se pensarmos na situação do Brasil, onde o número de mortes diárias por COVID-19 bate recordes em série, e é mais incrível ainda se pensarmos que um ano atrás a China era o país que concentrava o maior número de casos de COVID-19 no mundo, maior que as estatísticas de todas as outras nações do planeta em mais de uma ordem de grandeza.

Combatendo a pandemia de forma energética e com medidas comprovadamente eficazes (OK, nem sempre tão comprovadas assim), a China deixou de ser o país mais atingido pela nova doença para ser uma das nações que mais bem controlou o vírus. Como, exatamente, eles fizeram isso?

A brutalidade chinesa na pandemia

Um dos casos mais emblemáticos de como as autoridades chinesas são agressivas em suas medidas sanitárias é a do jovem Peng Hui, motorista de Didi, um aplicativo de caronas semelhante ao Uber (só que da China!).

No final do ano passado, apareceram casos de COVID-19 em Xangai, e as autoridades chinesas descobriram que alguns dos pacientes positivados eram residentes de um condomínio chamado Mingtianhuacheng. Imediatamente ordenaram que o condomínio fosse fechado: ninguém entra e ninguém sai. Em poucos minutos, chegaram dois ônibus com profissionais de saúde que examinaram e testariam os 6.000 moradores do condomínio.

Aliás, todos os 6.000 residentes foram examinados e testados em cinco horas. E você reclamando dos seus plantões de 100 pacientes… 

Por azar, Peng estava dentro do condomínio no momento em que seu fechamento foi ordenado. Mesmo tendo passado poucos minutos lá dentro, apenas o tempo de deixar um passageiro, a saída de Peng não foi autorizada. Tivesse chegado um pouco antes, ele teria saído antes do decreto. Mas não foi o que aconteceu. Ele estava lá no momento exato em que o complexo foi fechado, e sua saída não foi autorizada. Sem choro nem manha.

Peng teve que ficar 14 dias no condomínio, em isolamento, dormindo em um cômodo improvisado da administração do complexo. Sua namorada levou-lhe roupas e os dois puderam se ver à distância, mas ele só foi liberado mesmo após 14 dias (mesmo com o teste negativo dias antes).

A forma como a China trata a pandemia é sem dúvidas brutal. Mas será que é efetiva?

A efetividade chinesa na pandemia

No momento em que escrevo (03/03/2021), a China conta 89.923 casos de COVID-19, sendo 68.151 na província de Hubei, onde fica a cidade de Wuhan, epicentro da pandemia. Desde março de 2020, raríssimos dias a China registrou mais de 100 novos casos em um único dia, mesmo rastreando casos e testando em massa. Para comparação, o estado de Minas Gerais tem registrado diariamente mais de 100 mortes devido a COVID-19 desde meados de janeiro.

Ou seja, um único estado brasileiro (com 21 milhões de pessoas) registra mais mortes devido a COVID-19 do que o número de casos que a China inteira (com 1,4 bilhão de pessoas, 70 vezes mais do que Minas Gerais) registra.

Mas talvez não seja justo comparar com o Brasil, um dos países que pior lidou com a epidemia do Sars-CoV-2 e que tem registrado mais de 50 mil novos casos todos os dias. Talvez seja melhor comparar com países mais ricos e melhor equipados.

Ainda assim, a China se destaca como uma das nações que tiveram mais sucesso em suprimir o novo vírus. Os Estados Unidos ainda registram mais de 50 mil novos casos por dia, assim como o Brasil (com uma população cerca de 50% maior, porém). Já a Itália contou entre 10 e 20 mil novos casos por dia na última semana: muito menos que Brasil e Estados Unidos, mas ainda muito mais que a China.

Indo mais para o Oriente, o Japão apresentou pouco mais de mil novos casos nos últimas dias, enquanto a Coreia do Sul registra pouco menos de 500 novas infecções diariamente. Agora, sim, países mais próximos dos números chineses. Mas ainda distantes.

Uma guinada austral e chegamos à Nova Zelândia, um dos países que melhor respondeu à crise. O país tem registrado menos de cinco casos diários. Um número bem baixo, muito abaixo dos níveis de Japão, Coreia, Brasil e Estados Unidos… Mas ainda um pouco pior do que as estatísticas chinesas.

Ou seja, a China, em toda a sua brutalidade, conseguiu realmente suprimir o quase imparável novo coronavírus, com sucesso. Qual será o segredo chinês para combater a pandemia com essa efetividade incontestada?

O kit COVID xing ling

A resposta não poderia ser outra: o sucesso da China é baseado no tratamento precoce da COVID-19. Hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina nos primeiros dias de síndrome gripal, para todos os doentes. “Magavilha”.

Só que não. 

O país que está distribuindo drogas comprovadamente ineficazes para pessoas que não precisam delas está registrando mais de mil mortes diariamente por COVID-19. O segredo da China é outro: testagem em massa, rastreio de contatos e isolamento agressivo.

O caso de Peng Hui ilustra esses três pontos: alguns casos foram detectados, um contato foi rastreado, 6.000 moradores de um condomínio ficaram 14 dias em quarentena e todos foram testados porque um morador daquele condomínio era um caso suspeito.

Não há zona cinza: é tudo preto no branco. A China tratou a COVID-19 com agressividade. E agora está colhendo os dividendos de suas ações.

O que podemos aprender com o sábio chinês

O tratamento precoce para COVID-19 que o Ministério da Saúde propõe é como o conto do sábio chinês: gostoso de ouvir, mas essencialmente psicótico. A sabedoria chinesa no combate à pandemia nos propõe outra estratégia, esta sim efetiva: testagem em massa, rastreio de contatos e isolamento agressivo. 

Sem isso, o controle da pandemia continuará sendo um sonho, fruto de um sono bem pesado, regado não a clonazepam nem zolpidem, mas a cloroquina e azitromicina.

PS: Eu mantenho tudo que foi escrito aqui: Por que receito cloroquina para COVID. Não há contradição entre este texto e o texto citado.

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