A medicina é uma das profissões mais bem pagas do Brasil. Não é tanto como um estacionador de navios ou um dono de cartório, mas muitos médicos ganham mais do que promotores e juízes (se ignorarmos os supersalários) — ou seja, muita grana.
Sempre há muita especulação sobre a rentabilidade de cada profissão, mas é difícil conseguir números concretos, que realmente ajudem o jovem estudante ou aspirante-a-profissional a tomar uma decisão bem embasada sobre sua carreira futura. Afinal, qual é, de verdade, o salário de um médico?
Fiz essa pergunta para alguns colegas para ter uma resposta real, com números claros. A informação vale para médicos recém-formados nas redondezas de Uberlândia. Os salários alhures e dos especialistas diferem consideravelmente.
Perfil 1: Estudando para a residência e trabalhando
Formado em junho de 2020, na UFU, com 24 anos. Morava na casa dos pais, não tinha dinheiro para se manter fora da cidade. Começou a trabalhar um dia após pegar o CRM, uma semana depois de formado: plantão de clínica médica em pronto-socorro, em uma pequena cidade vizinha. O plantão remunerava mil reais.
Recebeu 35 mil no primeiro mês. Nos primeiros meses depois de formado, trabalhava cerca de 95 horas por semana. Chegou a receber 50 mil em um mês, sendo o “normal” um salário entre 40 e 45 mil líquidos. Recebia a maior parte disso via pessoa jurídica (imposto de renda consideravelmente menor).
Atualmente, faz 48-60 horas semanais, recebendo cerca de 22 mil reais por mês, a maior parte via pessoa física. Ou seja, quase igual um juiz. Trabalha principalmente de quinta-feira a domingo, quase ininterruptamente, e tem metade da semana à disposição para estudar para a residência (quer cirurgia geral).
Um exemplo de nota fiscal (valor recebido via PJ):
Perfil 2: Residente que faz uns extras
Formou em 2018, na UFU. Morava em uma cidade vizinha, com a família. Sempre fez muita coisa extracurricular na faculdade: centro acadêmico, liga, intercâmbio, iniciação científica etc. Logo após formar, começou a trabalhar na “porta” (pronto-socorro) e em medicina do trabalho, sempre indicado por amigos. Hoje, é ele quem os indica.
Antes de começar a residência em uma das especialidades mais difíceis de entrar da medicina, fez oito a dez mil reais por mês com esses empregos. No R1 (primeiro ano da residência), recebi a bolsa (cerca de três mil reais) e mais alguns poucos plantões que fazia fora. A partir do R2 (segundo ano), conseguia fazer dois ou três plantões extras por semana, conseguindo uma renda de cerca de 10 mil reais, além da bolsa de 3 mil. Nos meses mais folgados, chegou a receber mais de 20 mil.
Perfil 3: Generalista que curte a vida
Voltou para o interior no final de 2019, depois de se formar na capital. Trabalhou um ano na atenção secundária em Uberlândia (famosa UAI), começando na “porta”, depois indo para a enfermaria. Manteve uma média de pouco menos de 40 horas semanais durante muito tempo: seis horas diárias de segunda a sexta-feira (horizontal), e um ou outro plantão extra no final de semana.
Depois de um ano, começou a trabalhar em uma UTI COVID da rede pública, mas manteve a carga horária. Agora, seu escritório é na praia. Os rendimentos ficam entre 12 e 16 mil reais por mês.
Um exemplo de seu holerite:
Perfil 4: Generalista que trabalha pra c*aralho
Formado no final de 2020. Fez faculdade no mesmo lugar onde nasceu e foi criado e onde trabalha até hoje. Passou pela UAI (pronto-socorro e enfermaria), pela medicina do trabalho, por clínicas particulares e agora está em hospital de campanha.
Desde a formatura, se esforça em fazer até 80 horas semanais — mas teme que o pique esteja chegando ao fim. Entre idas e vindas, chegou a fazer jus a até 35 mil reais por mês.
Um exemplo de holerite:
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Em geral, médicos recém-formados fazem cerca de 10.000 reais por 30 horas semanais de trabalho. É um número seguro para estimar a remuneração de um médico recém-formado em Uberlândia, no meio da pandemia do coronavírus.

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