Atenção, porque isto é muito importante: você escolheu o curso errado.
Não é culpa sua. Os jovens que escolhem erroneamente fazer medicina são mais numerosos do que os grãos de areia da Arábia. Você é apenas um em um milhão. Não se preocupe.
Mas saiba que essa não é a escolha certa. Médicos não ajudam pessoas nem são interessados por biologia molecular (pelo menos não por essência). Médicos não são ricos nem socialmente bem vistos (não particularmente, e definitivamente não sempre). Médicos simplesmente praticam medicina, o que às vezes envolve um mix curioso e amargo de 1. malefício para o paciente (e para a sociedade!!!), 2. má remuneração e 3. ameaças à sua integridade física.
E nenhuma, nenhuma biologia molecular.
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Não se engane: você não estaria melhor fazendo odontologia (credo) nem enganharia (não desejo a meu pior inimigo). Você seria miserável fazendo economia e provavelmente se arrependeria de tentar estudar letras.
Não exatamente por esses são os cursos errados, mas porque todos os cursos são errados.
Menos um.
Imagine que você pudesse assistir a todos os seus potenciais futuros, cada um o desdobramento da simples escolha do seu curso universitário:
- Medicina: você demora três anos para ser aprovado, passa mal na Festa da Medonha, vai morar em Ji-Paraná depois da residência, tem dois filhos, é divorciado aos 52 anos e morre tranquilamente e rico aos 83.
- Direito: você passa direto, quase chega na semifinal das Olimpíadas UFU, começa a apostar em alguns jogos por influência de seu amigo de república, fica milionário pela loteria, tem três filhos (com uma esposa diferente da do primeiro cenário) e morre casado e feliz aos 95 anos no Guarujá.
- Veterinária: você se diverte como nunca pensou que seria possível na faculdade, experimenta com a bissexualidade em uma passagem pela Holanda, consegue um emprego bom e agradável em Uberlândia, mas não dá certo com nenhuma das cinco namoradas sérias (de pelo menos três anos de relacionamento) que você teve e morre solteiro aos 62.
E por aí vai.
Algum desses cenários seria o seu quase-ideal, o mais próximo da vida perfeita: talvez os dois filhos fossem os filhos dos seus sonhos, mesmo divorciado; talvez o prêmio da loteria fosse o cenário mais feliz, mesmo sem ganhar as Olimpíadas; talvez as memórias e amizades da faculdade significassem tudo para você, mesmo sem casamento.
Mas o que menos importaria nisso tudo seria o curso: se os dois filhos perfeitos viessem do curso de química, você escolheria química. Por sorte, você gosta de biologia molecular, né?
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Dica para escolher seu curso universitário: jogue uma moeda. Se der cara, você desiste dele; se der coroa, o jogo continua. Repita com todos os cursos até sobrar um único, que é o que você vai fazer. Se for engenharia, você pode tentar de novo.
E mesmo assim, saiba que provavelmente será o curso errado, e que você terá perdido o grande amor da sua vida, ou os filhos mais perfeitos do universo, ou o prêmio da loteria, porque você não escolheu o curso que lhe faria mais feliz.
E daí? A vida não serve para ser feliz. Ela serve para ser vivida. E a felicidade tem pouco a ver com o crso que você escolhe.
Mas se você quer saber algo sobre “felicidade e curso universitário”, saiba isto:
Escolher um ou outro não vai afetar tanto seu bem estar e satisfação pessoal dali a várias décadas. Ficar constantemente remoendo a sua escolha, vai.
One rich man in ten with a satisfied mind.

O que você acha?