Música
Autoria
Gabriel, o Pensador, Lulu Santos e DJ Memê
Melhor verso
E pro índio nada mais faz sentido/ Com tantas drogas, porque só o seu cachimbo é proibido?
Meus dois centavos
Eu já escrevi como o cachimbo da paz era um cachimbo que os caciques de tribos ameríndias usavam em certos rituais, inclusive após acordos de paz — daí seu nome. Muita gente acha que Gabriel inventou esse nome para se referir à maconha, mas não; a poesia da letra foi além disso.
Gabriel foi um talento precoce. Gravou o primeiro álbum com menos de 20 anos, com clássicos como Tô feliz (Matei o presidente), Lôraburra e Retrato de um playboy. Pode-se argumentar sobre seus temas controversos, suas análises rasas e sua violência verbal desnecessária nesse primeiro álbum, mas seu talento enquanto rapper e enquanto compositor já eram evidentes — e isso era apenas o começo. Gabriel, o Pensador só melhorou desde então.
Cachimbo da paz foi lançada alguns anos depois. Gabriel já era mais velho, tinha um talento mais refinado e tinha a parceria com Lulu Santos. Ele não apenas fez uma defesa sensata da legalização da maconha (ao contrário dos gritos contemporâneos insensatos, mas poderosos, do Planet Hemp), mas contou uma história psicodélica enquanto isso.
Uma comunidade está muito violenta e seu presidente decide viajar para escapar daquilo. Na viagem, encontra um índio que usava esse tal cachimbo. Ele volta para a comunidade, com o índio, que é nomeado ministro e que, embasbacado com a violência local, decide apresentar seu cachimbo àquela sociedade. Numa reviravolta hollywoodiana, o cachimbo é proibido (talvez porque era desejado demais) e o índio-ministro é preso. Nesse processo, ele presencia ainda mais de perto a violência daquela comunidade, além de sua hipocrisia: “eles querem acabar com a violência, mas a paz é contra a lei e a lei é contra a paz”.
No fim, os companheiros de prisão do índio estão com ânimos alterados e ele propõe que todos se acalmem com o cahcimbo da paz. Sua sugestão é recebida com chacota e o índio é assassinado. Depois, seus próprios algozes passam a vender o cachimbo, agora na ilegalidade.
A proibição (não só) da maconha é um absurdo que só serve à injustiça.
Da pele para dentro, sou soberano absoluto, e as fronteiras de minha pele são muito mais sagradas do que os confins políticos de qualquer país.
O que você acha?